Os pais desempenham um papel crucial no desenvolvimento de seus filhos através de várias práticas e comportamentos. A seguir, são descritas algumas estratégias baseadas em evidências para melhoras a interatividade dos pais com seus filhos:
- Brincar com a criança: A Academia Americana de Pediatria destaca que o brincar apropriado para o desenvolvimento com os pais e colegas promove habilidades sociais, emocionais, cognitivas, de linguagem e de autorregulação, essenciais para a função executiva e o comportamento pró-social. É muito importante para as crianças sentir a sua importância para os pais e apreender a ganhar e perder. A substituição das brincadeiras físicas por jogos eletrônicos desestimula a interação social.
- Interações positivas e apoio linguístico: estudos mostram que comportamentos parentais positivos, como ler, contar histórias e cantar para as crianças, estão associados a melhores habilidades lexicais e gramaticais, além de uma capacidade expressiva geral mais elevada. Tão importante quanto o estímulo é a prática e o exemplo dado pelos pais. O ditado “faça o que eu digo e não o que faço” não funciona com as crianças. As crianças copiam os modelos dos pais.
- Apoio à atividade física e habilidades motoras: Os pais desempenham um papel central na formação dos comportamentos de atividade física e habilidades motoras fundamentais das crianças. Práticas parentais positivas, como encorajamento, monitoramento e co-participação, são importantes para o desenvolvimento dessas habilidades.
- Promoção do controle atencional e funções executivas: A interação entre pais e filhos é essencial para o desenvolvimento do controle atencional e das funções executivas. Programas educacionais para pais podem melhorar significativamente a presença de apoio e reduzir a intrusividade, o que, por sua vez, melhora o controle atencional e as funções executivas das crianças.
O ambiente familiar pode influenciar significativamente o desenvolvimento emocional de uma criança de várias maneiras. Estudos mostram que a socialização das emoções pelos pais, ou seja, como os pais reagem e lidam com as emoções dos filhos, desempenha um papel crucial. Reações de apoio, como reconhecer e processar as emoções da criança, promovem estratégias adaptativas de regulação emocional, enquanto reações não suportivas, como minimizar ou punir expressões emocionais, podem prejudicar esse desenvolvimento.
Além disso, o clima emocional da família, incluindo a presença de conflitos e emoções negativas, está associado a sintomas psicopatológicos nas crianças.
A presença de sintomas depressivos maternos ou paternos pode afetar a capacidade da mãe, ou do pai de fornecer suporte emocional adequado, influenciando negativamente os resultados afetivos e neurocognitivos das crianças.
Os avós também desempenham um papel significativo no desenvolvimento emocional das crianças, especialmente no contexto do ambiente familiar. A literatura médica destaca várias formas pelas quais os avós podem influenciar positivamente o desenvolvimento emocional das crianças:
- Suporte em situações adversas: Um estudo demonstrou que o cuidado dos avós pode ter um efeito protetor no desenvolvimento socioemocional de crianças que enfrentam experiências adversas na infância. Crianças de 3 anos que receberam cuidados dos avós mostraram mais comportamentos pró-sociais e menos problemas externalizantes.
- Qualidade do envolvimento: A qualidade do envolvimento dos avós é crucial. Crianças que recebem cuidados de alta qualidade dos avós apresentam melhores habilidades sociais e menos problemas comportamentais.
- Estilos parentais dos avós: Estilos parentais calorosos e de rejeição dos avós influenciam diretamente o desenvolvimento socioemocional das crianças. Estilos parentais calorosos estão associados a menos problemas socioemocionais, enquanto estilos de rejeição podem aumentar esses problemas. Esses achados sublinham a importância de considerar a rede familiar ampliada, incluindo os avós, no apoio ao desenvolvimento emocional das crianças.
O desenvolvimento infantil pode ser influenciado por uma variedade de fatores adversos, conforme documentado na literatura médica. A exposição a adversidades precoces, como pobreza, negligência e estresse, tem sido associada a consequências negativas no desenvolvimento cognitivo e socioemocional das crianças. A pobreza na infância é um dos preditores mais robustos de resultados de desenvolvimento desfavoráveis, afetando tanto a função quanto a estrutura do cérebro em desenvolvimento. Além disso, a negligência, que representa uma violação das experiências esperadas pela espécie, pode resultar em déficits cognitivos de longo prazo e em padrões atípicos de desenvolvimento cortical e da substância branca.
Intervenções precoces são cruciais para diminuir esses efeitos adversos. A plasticidade cerebral durante o desenvolvimento infantil oferece uma janela de oportunidade para intervenções psicossociais que podem acelerar o desenvolvimento funcional do cérebro. No entanto, a resposta individual às intervenções pode variar, e a identificação de períodos críticos ou sensíveis é essencial para maximizar os benefícios. Portanto, é fundamental implementar programas médicos, psicológicos e escolares de intervenção precoce que abordem não apenas as condições adversas, mas também promovam ambientes de estimulação, nutrição e apoio cuidadoso para melhorar os resultados de desenvolvimento infantil.
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